As relações diplomáticas entre Argentina e Espanha ficaram ainda mais delicadas nesta terça-feira (21) depois que os espanhóis retiraram sua embaixada de Buenos Aires em retaliação as declarações do presidente Javier Milei que chamou a esposa do primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sanchez, de corrupta durante um evento em Madrid. Essa é a pior crise diplomática entre os dois países. “É um disparate típico de um socialista fatalmente arrogante”, disse o mandatário argentino. Em resposta a decisão, o governo da Argentina disse que “jamais” teve “a ideia delirante” de retirar seu embaixador na Espanha, Roberto Bosch, em reciprocidade à medida adotada pelo governo espanhol, segundo o porta-voz da presidência argentina, Manuel Adorni. Segundo ele, a decisão de Sanchez, beira ‘um papelão’. “Nunca nos passou pela cabeça a ideia delirante de retirar um embaixador de um país irmão como a Espanha”, disse o porta-voz após a reunião do gabinete argentino no meio da crise diplomática que levou o governo espanhol a retirar sua embaixadora na Argentina, María Jesús Alonso.
O governo argentino manteve a ideia que tem defendido desde o início do conflito com Espanha, de que “é um assunto estritamente pessoal” entre os líderes dos dois governos, e que, por isso, não levará a uma escalada “em questões de relações entre países ou investimentos”. “Não se escala, nem se desescala um conflito que não existe”, disse Adorni, que reiterou a ideia de que houve “uma reação excessiva” por parte do governo espanhol. “Nossa relação fraterna não tem nada a ver com o que está acontecendo. Ganhou magnitude agora, o que nos surpreende, porque foi um comentário de tom muito menor, comparado com o que disseram os funcionários de Sánchez”, acrescentou Adorni, em referência às declarações do governo espanhol contra Milei, pelas quais, segundo Buenos Aires, Madrid deveria pedir desculpas.
O ministro da Economia, Comércio e Empresa da Espanha, Carlos Cuerpo, pediu um “mínimo de respeito institucional” para que possam se desenvolver com estabilidade as relações com a Argentina, afetadas pela crise causada pelas declarações feitas pelo presidente argentino, Javier Milei, sobre o chefe do governo espanhol, Pedro Sánchez, e sua esposa. “Espanha e Argentina são parceiros econômicos e comerciais fundamentais, têm uma relação muito forte”, mas as ofensas de Milei “vão justamente contra essa estrutura” e “geram uma situação de instabilidade, incerteza para que as relações de investimento possam ocorrer”, disse Cuerpo em declarações a jornalistas.
“A partir desse ponto, o que temos a dizer de nossa parte, é claro, é que esse respeito institucional mínimo é necessário para que essas relações possam se desenvolver com um mínimo de estabilidade e para que as empresas possam desenvolvê-las em um ambiente seguro de segurança jurídica”, acrescentou o ministro, que está participando do Encontro Empresarial Espanha-Colômbia em Bogotá. Cuerpo lembrou que a Espanha é, assim como a Colômbia, o segundo maior investidor na Argentina, com um acumulado de 18 bilhões de euros, e um país com o qual há muitos anos existe “uma relação estável e frutífera” baseada “na cooperação e no respeito institucional”.
O ex-chanceler da Argentina Santiago Cafiero considerou “muito lamentável” a situação diplomática entre Argentina e Espanha e disse que a crise pode afetar as oportunidades de comércio e investimento entre os dois países. “O presidente (Javier Milei) fez ‘turismo político’ na Espanha (…) É uma provocação que está longe de fortalecer as relações entre os dois países”, afirmou em entrevista por telefone o ex-ministro das Relações Exteriores argentino durante os últimos anos do governo do peronista Alberto Fernández e que agora é deputado nacional.
Cafiero advertiu que os negócios entre países tendem a ocorrer “onde há boas relações”, uma situação diferente da que caracteriza atualmente as interações entre Argentina e Espanha. O ex-chanceler argentino lembrou que a tensão diplomática entre Espanha e Argentina não é inédita no caso de Milei, que já acumulou – em menos de meio ano de mandato – crises diplomáticas com Chile, Colômbia, México e China. Nos seus quase seis meses no cargo, Milei difamou quase todos os líderes de esquerda da América Latina. “A Argentina está se isolando. O olhar libertário e violento só faz isolar”, acrescentou Cafiero.
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