O ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, acusou, sem provas, Kiev de pretender usar o que é conhecido como uma "bomba suja" — um armamento que usa explosivos convencionais, mas também contém material radioativo.
A acusação foi refutada pelos governos da Ucrânia, França, Reino Unido e Estados Unidos.
O que disse a Rússia?
Shoigu disse ao secretário de Defesa do Reino Unido, Ben Wallace, que estava "preocupado com possíveis provocações de Kiev envolvendo o uso de uma bomba suja".
Ele fez comentários semelhantes conversando com ministros da Defesa dos EUA, da França e da Turquia.
Em uma resposta conjunta, França, Reino Unido e Estados Unidos disseram que seus governos "rejeitam as alegações claramente falsas da Rússia de que a Ucrânia está se preparando para usar uma bomba suja em seu próprio território".
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, negou a acusação e disse que a Rússia é "a fonte de tudo de sujo que se possa imaginar nesta guerra".
Vinculada às Nações Unidas, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) anunciou que fará inspeções em dois locais da Ucrânia, a pedido de Kiev em meio às acusações feitas por Sergei Shoigu.
O diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, disse que a agência já monitora esses lugares periodicamente — uma das locações, não identificada, foi inspecionada há um mês. "Nossos achados foram consistentes com declarações da Ucrânia em termos de segurança", afirmou Grossi.
"Nenhuma atividade ou material nuclear não declarado foi encontrado lá."
O que é uma bomba suja?
Também chamado de dispositivo de dispersão radiológica, é uma bomba que contém material radioativo, que se espalha pelo ar quando o explosivo convencional detona.
Estes dispositivos não precisam conter materiais radioativos altamente refinados, como aqueles usados em uma bomba nuclear.
Isso os torna muito mais baratos e mais rápidos de fabricar do que as armas nucleares. Eles também podem facilmente ser transportados na traseira de um veículo, por exemplo.
Como a precipitação de material radioativo pode causar doenças graves como o câncer, esse tipo de bomba já tem como impacto o pânico em populações-alvo. Uma ampla área ao redor da zona de explosão também teria que ser evacuada para descontaminação ou totalmente abandonada.
A Federação de Cientistas Americanos calculou que, se uma bomba contendo uma determinada quantidade de material radioativo e explosivos comuns explodisse na ponta de Manhattan, em Nova York, toda a cidade ficaria inabitável por décadas.
Por esta razão, as "bombas sujas" são consideradas armas de destruição em massa.
No entanto, elas não são muito confiáveis como armas. Para que o material radioativo de uma bomba suja se espalhe na área almejada, ele deve ser reduzido à forma de pó. Mas se as partículas forem muito finas ou lançadas em ventos fortes, elas se espalharão muito, o que diminui seu potencial de dano.
Por que a Rússia acusou Kiev de cogitar o uso de uma 'bomba suja'?
O Instituto para o Estudo da Guerra (em inglês Institute for the Study of War, o ISW), com sede nos EUA, disse que o ministro da Defesa da Rússia "provavelmente procurou retardar ou suspender a ajuda militar ocidental à Ucrânia e possivelmente enfraquecer a aliança da Otan através de falas amedrontadoras".
Também houve especulações de que a Rússia estaria planejando explodir uma bomba suja na Ucrânia e culpar as forças ucranianas por isso — algo que o ISW afirmou considerar "improvável".
Muitos analistas militares dizem que a Rússia não seria tão imprudente, dado o dano que uma bomba suja poderia causar às suas próprias tropas e às áreas sob seu controle na Ucrânia.
Alguma bomba suja já foi usada no mundo?
Nunca houve um ataque com uma bomba suja que tenha obtido sucesso, mas já houve tentativas.
Em 1996, rebeldes da Chechênia colocaram uma bomba no parque Izmailovo, em Moscou, contendo dinamite e material radioativo. Serviços de inteligência descobriram sua localização e a bomba foi desarmada.
Em 1998, o serviço de inteligência da Chechênia encontrou e desarmou uma bomba suja que havia sido colocada perto de uma linha ferroviária.
Em 2002, José Padilla, um cidadão americano que tinha ligações com a Al-Qaeda, foi preso em Chicago por suspeita de planejar um atentado com bomba suja. Ele foi condenado a 21 anos de prisão.
Em 2004, Dhiren Barot, cidadão britânico e membro da Al-Qaeda, foi detido em Londres por planejar ataques terroristas nos EUA e no Reino Unido utilizando uma bomba suja. Ele foi preso em 2006 e condenado a 30 anos de prisão.
No entanto, nem Padilla nem Barot chegaram a começar a montar suas bombas antes de serem presos.
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