A indústria acredita que a PEC da Transição ou “PEC Fura-teto”, proposta pela equipe do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), deverá gerar maior inflação e queda do real frente ao dólar. O gerente executivo de economia da Confederação Nacional da Indústria (CNI) Mário Sergio Telles considera que a transferência de renda proposta na emenda contribuirá para a evolução do mercado de trabalho e do Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2023, mas com efeitos colaterais à estabilidade fiscal. “A gente entende que é muito importante a manutenção da âncora fiscal. Esse nível de expansão fiscal que está previsto vai ter efeitos econômicos que preocupam: inflação, desvalorização e a manutenção da taxa Selic por um tempo mais prolongado. A gente entende que é preciso acomodar algumas despesas. Politicamente é impossível, por exemplo, R$ 600 não serem mantidos, mas tem que ser feita uma discussão no Congresso Nacional o ponto ótimo do aumento de despesa”. A afirmação foi dada em coletiva de imprensa da CNI. No evento, Telles evitou julgar nomes como o de Fernando Haddad (PT-SP), contrapondo que será mais importante a política econômica do futuro governo e que cabe ao presidente a escolha das opções.
Para a CNI, a Selic não deveria subir mais dentro da análise do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. “A gente não tá trabalhando neste cenário básico. Não tem previsão de aumento de taxa de juros porque já estamos com nível de taxa de juros real muito alto. A gente entende que a taxa neutra é em torno de 3,75%, 4% ao ano, e estamos operando no dobro dessa taxa, próximo de 8%. Não entendemos que seja necessário um aumento nessa taxa real. O último aumento [realizado] ainda vai se refletir na atividade econômica. É o momento de esperar que esse nível de juros faça o trabalho para conter a inflação. E, no nosso cenário, a inflação começa a convergir para a meta já em 2024. Por isso que a gente prevê no segundo semestre o início da redução de taxa de juros”, diz. A CNI acredita que o ano de 2022 superou as perdas com a pandemia, com avanço de 3% do PIB com destaque para serviços e com comércio e indústria andando paralelamente nos últimos meses em razão dos juros em patamares elevados, implicando na queda dos financiamentos, consumo e crédito em segmentos como veículos e eletrodomésticos. Telles afirma que o avanço de 1,8% da indústria foi puxado pelo bom desempenho da Construção Civil, que teve crescimento de 7%. Para 2023, a CNI projeta uma alta de 1,3% do PIB brasileiro.
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