A saída da Rússia do acordo de exportação de grãos ucranianos pelo Mar Negro pode impactar o preço dos alimentos em todo o planeta. Em meio a mais um capítulo da guerra entre os países, ministros da Agricultura de nações da União Europeia se reuniram para buscar soluções diante da saída dos russos do tratado. O cancelamento do ajuste que permitia o fluxo de grãos da Ucrânia para países da África, Oriente Médio e partes da Ásia acarreta obstáculos de logística nas regiões afetadas, gera preocupações com a segurança alimentar e ameaça a explosão de preços dos alimentos. Os russos ainda bombardearam regiões portuárias no rio Danúbio, segunda rota mais importante de escoamento agrícola da Ucrânia, elevando os custos das operações. Essa escalada já fez os preços do trigo dispararem em Chicago. Os contratos do produto para setembro fecharam com alta de 8,6%, mesma situação do milho.
Segundo o professor de Relações Internacionais Manuel Furriela, a Rússia está usando suas últimas cartas para ganhar fôlego no conflito. “Um grande problema internacional que vai mexer com o preço desses itens e, no momento em que a gente tem uma pressão inflacionária nas grandes economias, como Estados Unidos e Grã-Bretanha, e uma questão humanitária de abastecimento de mercados que já são carentes e que têm uma população que passa por privações alimentares. A Rússia entende que essa é uma das únicas cartas na manga que ela tem para utilizar a pressão internacional”, diz Furriela. O advogado e mestre em direito marítimo Larry Carvalho ressalta que o grau de tensão ficou ainda mais elevado porque os operadores de embarcações de diversos países estão com receio de navegar pelo Mar Negro. “Da mesma forma que a Rússia informou que ia tratar qualquer embarcação da Ucrânia como potencial alvo militar, a Ucrânia declarou o mesmo para qualquer embarcação mercante que estiver se direcionando a portos russos no Mar Negro. A gente tem uma situação de embarcações não querendo ir ao Mar Negro devido ao risco muito grande”, analisa Larry.
Apesar da pressão inflacionária em todo o mundo, o Brasil pode ver o cenário como uma oportunidade de encontrar novos cenários. “Há uma possibilidade aberta que o Brasil deveria explorar. Já que você tem mercados que ficam suscetíveis às instabilidades da guerra, o Brasil poderia se candidatar a abastecer esses mercados. Poderia aproveitar os espaços não ocupados pela Rússia e pela Ucrânia por conta dessa crise e ampliar o seu leque de parceiros comerciais. Essa é uma oportunidade que o Brasil tem”, diz Furriela. O acordo de grãos vigente desde o ano passado reduziu a atividade naval bélica. No entanto, com esse recém acirramento do conflito, os países começaram a usar drones marítimos para conter avanços das forças armadas adversárias.
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