O ano de 2022 se encerra com a bolsa de valores brasileira em alta. O Ibovespa aponta um crescimento de 4,69% nos últimos doze meses, com o índice fechando aos 109.734,60 pontos. Contudo, durante este período, a B3 passou por muita volatilidade e gerou apreensão ao mercado financeiro. Em abril, a bolsa alcançou a incrível alta de 121.628,22 pontos, mas também teve uma queda brusca em julho, chegando aos 95.266,94 pontos. A variação foi de mais de 25 mil pontos, movimento incomum no índice brasileiro. O mesmo fenômeno pôde ser observado com a variação do dólar. A moeda norte-americana iniciou o ano sendo cotada a R$ 5,57 e chegou a R$ 5,70 ainda no primeiro mês de 2022. Em abril, sofreu forte queda e passou a valer R$ 4,59. Com isso, a flutuação da moeda ultrapassou os R$ 1,11. Entre altas e baixas, o dólar variou entre R$ 5 e R$ 5,50 nos últimos meses, finalizando o ano a R$ 5,28, o que representa uma desvalorização de 5,11% frente ao real. Diversos fatores colaboraram para esse cenário no mercado durante 2022. As incertezas trazidas por crises mundiais, as oscilações econômicas e as disputas políticas dentro e fora do Brasil geraram indefinições que afetaram a movimentação do mercado. Especialistas em economia ouvidos pela Jovem Pan relembram os principais eventos que afetaram a bolsa de valores e o dólar durante o último ano. Confira:
A dança da Bolsa de Valores
Segundo o economista Igor Lucena, os valores de volatilidade observados na bolsa brasileira durante 2022 não são normais. Ele aponta as eleições de 2022 e a situação do mercado externo como dois fatores fundamentais para entender essa movimentação. Os desdobramentos desses dois cenários geraram um clima de indefinição sobre o futuro que potencializou a flutuação da bolsa. “As eleições mexeram muito com o mercado. Não do ponto de vista de esquerda versus direita, mas de planos de governo. Se por um lado você tinha uma visão mais liberal, aonde o capital privado entraria com mais facilidade dentro das atividades econômicas do Brasil, do outro lado nós tínhamos um plano mais estatista, onde a intervenção do governo nas atividades econômicas seria mais forte. Então, quando você tem projetos econômicos tão antagônicos, isso é refletido no mercado de ações por essa alta volatilidade na bolsa. Lembrando que a bolsa sempre reflete expectativas futuras de rendimentos dentro da economia. Depois que o futuro ministro Haddad começou a dar entrevistas falando sobre controle de gastos públicos e reorganização das finanças, a bolsa voltou a subir. Foram essas situações extremas que fizeram a bolsa variar tanto em 2022. Outro ponto fundamental é o mercado externo. A crise na Ucrânia, que não acabou e deve se intensificar em 2023 por causa do início do inverno, e a diminuição da atividade econômica no mundo inteiro, principalmente nas economias desenvolvidas, fazem com que a bolsa tenha esses movimentos porque o cenário externo está muito incerto. A gente não sabe a capacidade que os governos e os bancos centrais vão ter de enfrentar essa crise. Então, essa indefinição sobre o mercado externo e o que vai ser da economia brasileira fizeram com que a bolsa tivesse essa amplitude de variação”, esclarece.
Investidor e especialista em auditoria e finanças pela FGV, André Dias complementa que o mercado mundial como um todo experimentou essa volatilidade acentuada nas bolsas de valores. Para ele, um dos grandes vilões que causou essa movimentação foi a inflação, tanto no mercado interno como externo. “Todas as economias mundiais estão lidando com esse problema, que é o aumento generalizado dos preços dos produtos. Para isso, a gente tem como ferramenta a taxa de juros. Tivemos altas sequenciais na Selic como forma de conter o avanço da inflação. E ela é muito importante para ditar o tom da bolsa de valores também. Quando nós temos uma taxa de juros alta, temos um enfraquecimento da economia, afetando principalmente setores como construção civil e varejo. As pessoas acabam fazendo menos compras e o mercado fica enfraquecido. Tudo isso impacta no resultado econômico do Brasil. Mas esse tem sido um problema no mundo todo, inclusive nos Estados Unidos. Além disso, a guerra da Rússia e da Ucrânia impactou o preço do petróleo e do gás natural, aumentando mais ainda o valor de produtos ligados a combustíveis e aquecimento. Isso pressiona ainda mais a inflação. Nos últimos meses do ano, o governo Bolsonaro trabalhou para a redução do ICMS dos combustíveis, o que controlou a inflação”, contextualiza. Assim como Igor, André também cita o impacto das eleições, ressaltando a preferência do mercado financeiro por continuidade e a expectativa de segmento do trabalho de Paulo Guedes, ministro da Economia.
O enfraquecimento do dólar
Do ponto de vista de câmbio, o Brasil conseguiu sair um pouco da faixa de cotação entre R$ 5 e R$ 5,50 para a moeda norte-americana em 2022. E, segundo Igor Lucena, existem duas razões para isso: a alta da inflação dos Estados Unidos e a iniciativa do país de fazer estímulos monetários, apesar do aumento nos juros. “A alta na inflação gera um efeito de valorização de outras moedas frente ao dólar. O real e o peso mexicano são as duas moedas dos países emergentes que mais se valorizaram em relação ao dólar em 2022. Tivemos uma grande entrada de dólares no Brasil com o aumento das exportações, principalmente de commodities como minério de ferro, cobre e aço, além de produtos agrícolas com a reabertura comercial da China pós-covid. O Brasil se tornou um dos quatro principais lugares que receberam investimento estrangeiro direto (FDI, na sigla em inglês). Isso foi fruto dos processos de desestatização e privatizações. O Marco do Saneamento, por exemplo, fez com que empresas internacionais entrassem na disputa por saneamento nacional e por portos e aeroportos. São recursos volumosos que entraram no Brasil. Então, quando você soma privatizações, exportações e o investimento externo, tivemos uma queda significativa do dólar e a valorização do real”, esclarece. Mas o economista ressalta que o cenário para 2023 não necessariamente será tão positivo, por causa do cenário econômico externo. Ele aponta a possibilidade de um aumento significativo do dólar com o crescente risco internacional.
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